quarta-feira, 24 de abril de 2013

The Stokes - Comedown Machine


Admitindo ou não, The Strokes estava com o orgulho ferido. Tendo recebido aclamação mundial após a explosão do disco de estréia Is This It?, lá no já distante ano de 2001. Nos doze anos que transcorreram até o atual 2013, Strokes nunca conseguiu igualar a sua obra prima inicial, apesar de ter ainda lançado Room On Fire, de 2003, bastante interessante. Em 2006 veio First Impressions of Earth, execrado pela crítica, apesar de ainda ter seus momentos. Mas o aparente declínio da banda só começaria a se mostrar claro com o lançamento de Angles, de 2011, onde, aparentemente, The Strokes se afogou confusamente no seu mar de influências, sem ter um controle da dosagem do eletrônico ou new wave dos anos 80, além do som típico dos Strokes que conhecemos. A crítica em geral e os fãs receberam Angles com uma decepção visível. Além de demorar muito tempo entre os álbuns, o resultado entregue estava longe de ser satisfatório. Impossível dizer com certeza, mas é bem provável que eles sentiram as críticas. É a explicação mais razoável para que dois anos depois de um álbum fracassado, a banda anunciar o lançamento de Comedown Machine. Dava a impressão de que Strokes estava disposto a apostar tudo dessa vez, como um esforço mal humorado de alguém com orgulho ferido. Não seriam concedidas entrevistas, nem sairiam em turnê para divulgar o novo disco. A resposta viria no som, uma última cartada para ver se ainda eram relevantes ou não, se ainda atraíam atenção ou não.

Eu, particularmente, estava bem cético quanto a Comedown Machine e, confesso, que levou algum tempo até admitir que é um trabalho de qualidade. Depois de se acostumar com ele, podemos apreciar e respeitar o esforço dos Strokes de ampliar seu campo de trabalho e atuação. É difícil sair da zona de conforto. O som praticado no eterno Is This It? com certeza seria mais fácil e relaxado de se fazer, mas não apresentaria desafio algum, além de não acrescentar nada a uma banda com mais de dez anos de história. Caminhar fora da zona de conforto requer coragem. E isso os Strokes estão mostrando que tem nesses dois últimos discos. Angles foi um projeto totalmente fracassado, mas com um objetivo. Comedown Machine, por sua vez, finalmente atinge esse objetivo, apresentando uma banda nova, tocando de um jeito diferente, explorando novos caminhos, mas conseguindo, ainda assim, manter uma identidade, coisa que faltou em Angles.




Mas, a verdade seja dita, a primeira música de Comedown Machine, “Tap Out”, dá um susto danado! É quase um convite a você apertar o botão de parar. Faz você já concluir que eles querem repetir a fórmula de Angles ou, até mesmo, piorá-la. “Tap Out” parece trilha sonora de jogo de vídeo game, do Super Nitendo ou Mega Drive. Se você teve coragem de continuar e tendo conseguido controlar o susto e manter a consciência, vai achar o resto da viagem bem agradável. “All The Time”, primeira música de trabalho de “Comedown Machine” é empolgante e apresenta uma conexão com o passado de Strokes, fato comprovado pelo vídeo clipe cheio de imagens de bastidores e dos shows num clima bem nostálgico.

“One Way Trigger” já anuncia alguns elementos novos na equação da banda que estarão presentes em várias vezes, como sintetizadores e um vocal mais agudo de Julian Casablancas, que era conhecido por uma voz mais rouca e desalinhada. Pode parecer estranho no começo, mas isso mostra como Casablancas é capaz de mudar de um tom para o outro na mesma faixa, apresentando uma dinâmica antes não vista. “Welcome To Japan” tem um ritmo bem interessante e por vezes é um pouco infantil, mas é no refrão e principalmente na parte final que ela fica boa e melódica, chegando até a pregar na mente.




“50/50” é bem rápida, ótimas guitarras e ainda tem os flashes dos momentos mais pesados e animados dos Strokes, principalmente no refrão, onde Casablancas solta um pouco a voz, daquele jeito que conhecemos. Mas o grande poder de se reinventar fica evidenciado em “80’s Comedown Machine”, uma balada totalmente estranha ao mundo Strokiano, mas que apresente um charme irresistível, além de notáveis e inéditos arranjos. Ela é também a música mais longa da carreira da banda, beirando os cinco minutos, para uma banda acostumada a ter uma faixa com média de três ou três minutos e meio.

“Slow Animals” apesar de tentar com um refrão alá “Changes”, de Bowie, fica com “Tap Out” entre as piores de Comedown Machine. “Chances”, por sua vez, volta àquela ótima variação vocal de Casablancas, entre o agudo e normal, casando muito bem entre as estrofes e o refrão, com mais uma bela melodia. A coisa volta a ficar agitada com “Partners In Crime”, com as guitarras, ao invés de teclados e sintetizadores, ditando o ritmo. O mérito de Comedown Machine é fazer essa transição de forma eficaz. Os anos 80 dominam novamente, para nossa tristeza, em “Happy Ending”. “Call It Fate, Call It Karma” mostra exatamente até onde esse “novo” Strokes pode chegar. Uma música totalmente estranha, mas, exatamente por sua quota de surpresa e novidade, fica muito interessante, tocada no violão e com um vocal bem abafado, quase inaudível, soprando uma bela melodia no novo timbre agudo de Casablancas.

Enfim, Comedown Machine, apesar dos altos e alguns baixos, pode ser sim denominado como um trabalho bem sucedido, afinal, atinge o objetivo da banda de renovar seu som e ela o faz de maneira equilibrada, sem comprometer a qualidade do resultado final, até porque mesmo nos momentos mais críticos, ainda restam momentos interessantes. The Strokes veio para mostrar se ainda eram relevantes. E a resposta é sim.


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