quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Resenha de Arnaldo Antunes - Disco



Arnaldo Antunes é, sem dúvida alguma, um dos artistas mais inventivos em atividade no cenário musical brasileiro, muito disso devido à sua veia artística e poética, que transforma sempre ideias originais em canções interessantes, seja qual for estilo musical que ele escolha enveredar pelo momento. Isso desde a época do rock mais pesado dos Titãs, também na sua fase conceitual, com O Corpo e nos trabalhos mais clássicos de sua carreira, como O Silêncio, de 1996, Um Som, de 1998 e Paradeiro, de 2001, até o mais suave de Saiba, de 2004, passando pelo rock dos anos 50 do seu último álbum, Iê Iê Iê, lançado em 2009. Essa originalidade ele sempre levou consigo também nos projetos que ele participou, como Os Tribalistas e Pequeno Cidadão. Para mais uma cartada na sua rica discografia, Disco, o novo disco de Arnaldo Antunes tem como proposta uma mescla sonora de todos os estilos praticados no decorrer de sua carreira.




A ideia de inventividade já começou a ser praticada deste o pré-lançamento de Disco, quando Arnaldo Antunes resolveu disponibilizar a cada início de mês, através de seu site oficial, um novo single do trabalho. No total, foram cinco meses, através dos quais foi possível conhecer pedaços bem interessantes de Disco, como “Muito Muito Pouco”, um rock onde Arnaldo Antunes já começa a fazer o que ele melhor sabe: levantar questionamentos para reflexão, sempre de forma inusitada: “muito pouca dúvida e muita razão tem muito pouca ideia e muito opinião”. A segunda parte apresenta versos entrecortados e com um ótimo trabalho de arranjo; “Dizem (Quem me Dera)”, uma linda balada e que apresenta uma das melhores letras de Disco, questionando a ideia de progresso pelo progresso e as consequências que isso provoca. “quem me dera não sentir mais medo, quem me dera não me preocupar, quem me dera não sentir mais medo algum”; “Ela É Tarja Preta”, um divertido e dançante tecnobrega; “Vá Trabalhar”, outro rock que levanta questionamentos sobre os problemas causados pela valorização exagerada do trabalho, em relação à família, dinheiro e saúde; e, por fim, “Sou Volúvel”, sobre o processo de criação e formação das ideias e sua finitude e fragilidade, solos de guitarra bem interessantes atravessam a música a todo momento.





Quanto às demais, Disco também nos escondeu alguns momentos muito interessantes, como é o caso de “Trato”, remetendo ao estilo mais percussivo. “Morro, Amor” é uma romântica balada no violão, com delicados arranjos de sopro, onde Arnaldo Antunes divide a autoria pela primeira vez com Caetano Veloso, sobre a finitude e a intensidade do amor. “Ah, Mas Assim Vai Ser Difícil” mostra um Arnaldo Antunes furioso como pouco antes visto, remetendo um pouco ao tempo de Titãs, com um solo intenso de guitarra, sobre o julgamento alheio e a burocracia da sociedade hoje, cheia de formulários para preencher, documentações para apresentar, dentre outros inúmeros emperramentos. “Querem Mandar”, tem uma das melodias mais bonitas de Disco, muito bem arranjada, e um recado para os políticos, grandes empresários e instituições políticas. Combina perfeitamente com o momento de agitação social que o Brasil vivencia hoje com o “a gente não vai aceitar, nem entrar nessa”. Muito boa.

Arnaldo Antunes dá a jazzística “Mamma”, feita por Gilberto Gil em inglês, uma bela versão em português, sem extinguir as influências do jazz no ritmo e nos arranjos, calorosa e suave como um abraço de mãe. “Oxalá Chegar” mostra o estilo menos inspirado de Arnaldo Antunes. Já “Sentido” é um rock pesado ao estilo Titãs, com fortes riffs de guitarra e questiona o sentido da vida e a sua finitude. A faixa final, curiosamente, fala sobre despertar, “Acalanto para Acordar”, uma balada no melhor estilo Arnaldo Antunes que cumpre a promessa do título.

Disco é a congregação, enfim em um único disco, de todo o universo que Arnaldo Antunes explorou em sua riquíssima carreira. E finca ainda mais o nome de Arnaldo Antunes como o grande e, talvez, o maior e melhor compositor ainda em atividade na música brasileira.


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