domingo, 13 de setembro de 2015

Resenha de John Earl Walker - Mustang Blues


                O veterano guitarrista de Nova Iorque acaba de lançar mais um ótimo disco de blues. Apaixonado pelo estilo desde os 13 anos quando ouviu Jimmy Reed, Earl Walker mantém um som do blues tradicional, direto e simples. Um blues puro e de primeiríssima qualidade. As dez faixas de seu sexto disco solo, Mustang Blues, são todas originais e o trabalho foi todo produzido pelo próprio Earl Walker, executadas por uma banda enxuta e muito à vontade, deixando espaço seguro para o talento de Walker na guitarra brilhar.

                A faixa de abertura, “Hey Baby”, que narra um caloroso reencontro de um casal depois de longa data sem se ver, é um grande exemplo disso. A linha firme do baixo segura o ritmo para ótimos solos da guitarra de John Earl Walker. O tempo de duração extenso permite uma variação de solos bastante interessante, o que mantém o ouvinte sempre atento. O mesmo se repete em cinco faixas do disco, que ultrapassam os cinco minutos de duração, o que dá um tempo confortável para Walker trabalhar com tranquilidade e perícia as tonalidades de sua guitarra. O roteiro segue com “The Devil’s Follows Me”, que personaliza a voz do capeta nos dando um conselho ruim e a luta que travamos para não segui-lo: “you know when the devil hangs around you, and give you some bad advice, you he fooled me once, people, but he won’t fool me twice”.



                A faixa que dá título ao álbum, “Mustang Blues” trata dos problemas modernos no trânsito das grandes cidades, especialmente, no caso, Nova Iorque. Usando como referência a clássica “Mustang Sally”, Walker mostra a dificuldade de se ter um carro na megalópole, com os policiais de trânsito ou radares sempre na cola, o que atrapalha o passeio com alguma garota. A instrumental “Funkify” é uma das mais interessantes musicalmente. Há um certo distanciamento do blues tradicional e em vários momentos pode-se perceber alguma semelhança com David Bowie, com vários efeitos que remetem à fase de Berlin, especificamente em Low, de 1977. Muito interessante e fornece um pouco de variedade sonora para o trabalho. Mas o tradicional e gostoso Chicago Blues está logo de volta com a ótima “I’m Already Gone”, guiada pela guitarra de Walker em longos momentos de jam.

                Em “My Mama Told Me”, mais um blues tradicional e direto, Walker diz um pouco dos conselhos maternos sobre os assuntos do coração: “my mamma told me, that girls is no good for you, she said don’t waste your time on her or you’ll wind up with the blues”. Superstorm Sandy Blues”, um blues mais lento, emocional e cheia de solos profundos, retrata a agonia real sobre os estragos da tempestade tropical Sandy, que atingiu o nordeste dos Estados Unidos em 2012. “the water rose so high, till it knocked down my front door, the next day I took a look inside and said, lord, can’t live here no more”.

                Readjust” é um blues-rock mais pesado, cheio de riffs. Apesar de manter o ritmo forte, serve mais para mostrar que Walker se dá melhor no blues tradicional mesmo. A faixa seguinte, “One Plus One”, evidencia isso. A banda soa muito mais confortável tocando blues mesmo. E Walker explora muito melhor sua habilidade na guitarra. A temática da letra também é do blues clássico, falando da descoberta de uma traição. “Even Up The Score” finaliza o disco na mesma tonalidade que acompanhou os quase cinquenta minutos de música: muito blues e muita guitarra.

                John Earl Walker mostra que às vezes o que é preciso para fazer um bom álbum do blues é ter simplesmente... blues. 

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