segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Resenha de Harpdog Brown - Travelin' With The Blues





                Harpdog Borwn (nome de batismo) é um cantor e gaitista que, mesmo vindo do gélido Canadá, consegue fazer um blues original, talentoso e, mais importante, autêntico. Desde 1982 Harpdog é uma força atuante no cenário local de blues no Canadá e aos poucos foi construindo uma base de audiência pelos circuitos de apresentações em bares, clubes e festivais pelo Canadá, Estados Unidos e Alemanha. Sua discografia já conta alguns discos bastante elogiados pela crítica. Home Is Where The Harp Is, de 1994, e gravado ao vivo, foi o primeiro deles, seguido por Once In A Howlin’ Moon, de 2001, gravado ao vivo com a banda Bloodhounds, e What It Is, de 2014, que alcançou o vigésimo lugar no Top 100 Blues Albums of 2014, da Roots Music Report. Em setembro, Harpdog apresenta seu melhor álbum até o momento: Travelin’ With The Blues leva a carreira de Harpdog a outro nível. Conta com participações muito especiais do cenário do blues, como Big Jon Atkinson e ninguém menos que Charlie Musselwhite, seu amigo pessoal e uma das maiores referências na gaita ainda viva, que escreveu uma nota apresentando o álbum ao público, dizendo simplesmente que Harodog é o cara tocando a “velha guarda do blues exatamente como você quer escutar”. E é isso mesmo. 

                Com uma tracklist incrível, Travelin’ With The Blues simplesmente não tem uma música fraca.  As letras em geral são boas, capturando a essência do blues, o disco em geral é muito bem produzido, a banda é ótima e a diversão garantida.  Muitas das músicas originais de Harpdog do álbum são revisões de canções dos discos anteriores, o que mostra o excepcional trabalho de produção de Little Victor Mac, dando uma sonoridade mais arrojada e garantindo que Harpdog dê um salto do cenário local para o mundial do blues. Vão inúmeros destaques individuais, começando pela faixa de abertura, a ótima “Better Days”, com Kid Andersen, que também aparece em outra faixa, “For Better Or For Worse”. Sem dúvida, “Sacrifice” é uma das que mais prende a atenção, com Harpdog quase recitando e conversando sobre a sua concepção de blues: “Blues is sacrifice”. Poucos diriam o contrário, afinal, a vida é difícil em todo lugar e a essência do blues é ser porta-voz dessas adversidades. Permitam-me agora uma digressão: poucos diriam o contrário, muito menos hoje, dia dez  de outubro, que acaba de ser aprovada em primeiro turno, na Câmara dos Deputados,o Projeto de Emenda à Constituição nº 241, que congela os investimentos em educação e saúde por vinte anos. 20 anos de sacrifício. É bom começar a ouvir mais o blues, porque iremos precisar muito daqui pra frente. Enfim, voltando ao álbum, aqui a voz de Harpdog transitando entre Tom Waits e Louis Armstrong, bem fraco, né? “What’s Your Real Name?” também é recitada, brincando sobre o nome Harpdog ser verdadeiro. Musselwhite faz um dueto de gaitas com Harpdog em “Moose On The Loose”. “Fine Little Girl Rag” tem um ritmo jazz de rag-time bem gostoso, com Harpdog nos fazendo dançar com sua gaita. “Cloud Full of Rain” é uma das melhores, com a estrutura de um blues tradicional e cheia de solos de gaita. A divertidíssima “Facebook Mamma”, que já estava presente no último disco de Harpdog, What It Is, recebe a nova versão mais encorpada e completa com a participação de Danny Michel. A letra trata do vício de quem fica pelo Facebook o tempo todo. 

Mesclando com as originais estão quatro covers muito bem executadas, com destaques para o clássico de Otis Spann, “Must Have Been The Devil”, com participação de Carl Sonny Leyland,  e “Bring It On Home”, original de Sonny Boy Williamson II, e aqui com a parceria de Jimmy Morelo na bateria.

                Com Travelin’ With The Blues, sem dúvida Harpdog Brown está se encaminhando para ser incluído no hall dos grandes nomes do gênero na atualidade. Se engrenar uma sequência de álbuns dessa qualidade, ele conseguirá. Energia, talento e vontade ele tem. Afinal, ele mesmo falou recentemente: “depois de mais de 30 anos de sangue, suor e lágrimas, parece que estou apenas começando. Tenho só 54 anos – isso é jovem no mundo do blues”. 


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